sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

o maior segredo é não haver mistério algum

são apenas duas estações no metrô da linha verde de são paulo que separam
o ponto do meu ônibus do endereço do escritório. 5 minutos (ou menos,
nunca sei) que valem muito, toda vez que eu pego um trem desses com poesia
colada na parede.

O Guardador de Rebanhos (Canto XXXIX)
Fernando Pessoa (Alberto Caeiro)

O mistério das coisas, onde está ele?
Onde está ele que não aparece
Pelo menos a mostrar-nos que é mistério?
Que sabe o rio disso e que sabe a árvore?
E eu, que não sou mais do que eles, que sei disso?
Sempre que olho para as coisas e penso no que os homens pensam delas,
Rio como um regato que soa fresco numa pedra.

Porque o único sentido oculto das coisas
É elas não terem sentido oculto nenhum,
É mais estranho do que todas as estranhezas
E do que os sonhos de todos os poetas
E os pensamentos de todos os filósofos,
Que as coisas sejam realmente o que parecem ser
E não haja nada que compreender.

Sim, eis o que os meus sentidos aprenderam sozinhos: —
As coisas não têm significação: têm existência.
As coisas são o único sentido oculto das coisas.

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