sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

conquistar pelo estômago

minha mãe sempre foi uma cozinheira de mão cheia, e sempre fez mais comida do que a minha família conseguiria absorver normalmente. (pensando a esse respeito, me pergunto se ela já não o fazia com intenções não-declaradas...)

então, todo dia era a mesma história: "filha, leve este pedaço de bolo na casa de fulano", "filha, leve esta tigela de feijoada na casa de outro...". e eu ia, às vezes sorridente, às vezes com vergonha, já que criança de vez em quando morre de vergonha sem nem saber o porquê.

às vezes, eu até tentava ir, mas não chegava porque tropeçava no meio do caminho, e lá se iam comida e tigela para o chão junto comigo. eu voltava chorando, um pouco pelo fracasso na missão, um pouco por medo de ser castigada.

e dessa maneira, tirando os episódios em que a gravidade era mais forte do que o meu equilíbrio infantil, ia se formando um vai-e-vém de potinhos de tampas coloridas e bandejas com paninho de prato para cobrir, além dos papéis de receitas. claro, vizinha educada não devolve o pote sem docinho de agradecimento, e vizinha amiga não pode negar a receita.

daí então, dona ana, minha mãe, começava a fazer tal prato porque tal pessoa gostava, e a convidar para jantar um outro, e depois mais outro... primeiro, jogava a isca, mandava levar em casa, depois convidava para um almoço de comemoração de qualquer coisa... e quando se percebia, já acontecia que nem se fossem amigos de infância!

chegou-se a um ponto em que não havia outro motivo nas reuniões além de se alimentar na companhia dos amigos conquistados para se realizar uma festança no jantar.

e é muito bonito observar que seja assim até hoje, apesar de menos frequentemente, as pessoas se telefonam e se combinam pelo simples prazer de degustar uma comidinha na presença dos amigos: que viraram amigos de vida, por serem tão bons amigos de garfo.

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